Sobre a espera

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Sobre a espera


A maior parte dos meus textos tem sido um registro de tudo o que senti desde que o conheci, e as coisas que este sentimento me levou a fazer, ou em um sentido mais profundo, ser.

Eu nunca me dei conta de maneira tão explícita a respeito do significado de ter arrastado, durante mais de 10 anos depois do nosso primeiro encontro, o pensamento até você periodicamente.

Não digo que pensei em você diariamente neste período. Por anos, ou meses, consegui me dedicar a outras tarefas ou pessoas, mas é unanimidade que em todos os momentos escrachadamente felizes da minha vida, eu tenha imaginado como seria tê-lo compartilhado com você.

Você foi, sob todos os aspectos, a pessoa que menos encorajou o modo como me sentia em relação a você mesmo. E ainda assim, aqui estou eu, sentada escrevendo enquanto penso em no mínimo 5 possibilidades de não permitir que minha vida acabe sem que eu tenha tocado meus lábios nos seus depois de inspirar profundamente o perfume do seu pescoço.

Eu poderia simplesmente te procurar e dizer tudo o que sinto. Mas acredito que mais uma vez você usaria todas as teorias que conheço bem para racionalizar o modo como você me afeta. Ou poderia me julgar por mentalmente instável. Mas eu sei que a existência de uma ciência que explique este sentimento não o torna menos real.

E na verdade eu concordaria com você: preciso de terapia para aprender a lidar melhor com o desespero que me toma (nos últimos meses com certa frequência) quando penso na possibilidade de nunca mais poder tocá-lo. Esta esperança tem sido o que me faz continuar. Que vida vazia ela seria sem isso.

Eu não sei que tipos de realizações você alcancou até agora, com quem está se relacionando ou qual seu momento de vida. Mas isso não muda em nada a certeza de que quando nos encontrarmos novamente, este encontro será como o primeiro que tivemos (talvez você não se lembre deste momento que insisto em evocar sempre: você em pé sozinho, organizando seus papéis enquanto eu me impressionava com sua altura. Você notou minha surpresa naquela noite? Talvez sim porque em meio a outros 20 desconhecidos, se aproximou de mim para fazer uma pergunta trivial e me assustou com a proximidade do seu rosto, me levando a dar um passo para trás e me arrepender instantaneamente pela grosseria).

Até que este novo encontro chegue, eu continuarei aqui escrevendo para encurtar a espera. Que você possa tomar conhecimento destes textos um dia. Eles são minha prova irrevogável de que nunca deixei de pensar em você desde que fomos embora, sem ao menos nos despedir.

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