outubro 2019

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Paraty e a primeira sensação de liberdade


Espremida entre a serra e o mar no estado do Rio de Janeiro, Paraty é uma cidade colonial que nasceu no ciclo da cana-de-açúcar e enriqueceu no ciclo do ouro mas que, depois de perder a posição de mais importante porto de escoamento dos produtos brasileiros, foi aos poucos abandonada e permaneceu em isolamento durante a primeira metade do século 20. Só depois da abertura da estrada Cunha-Paraty, em 1964, e da inauguração da Rio-Santos, em 1972, Paraty, que foi preservada através do tombamento pelo IPHAN em 1958, foi redescoberta.
Seu Centro Histórico é formado por preservados casarões coloniais, igrejas dos séculos 18 e 19 e ruas calçadas pelos escravos em pedras pés-de-moleque, poderoso redutor da velocidade que requer cuidado na caminhada e onde o tráfego de automóveis é proibido, e te obriga a vagar sem pressa pelos traçados das construções, pelos símbolos maçônicos nas quinas das casas, pelas ruas próximas ao cais invadidas pelo mar na maré cheia, apreciando a visão do mar e das montanhas. 

📌 Referências: Viaje na Viagem | Férias Brasil.

Paraty foi a minha primeira viagem "sozinha". Sozinha sem meus pais, porque aquelas para o interior de São Paulo para a casa dos meus avós pela milionésima vez eu não estava contando. Ela aconteceu em janeiro de 2013, quando eu tinha 23 anos.
Foi minha primeira experiência em hostel, mesmo sem sem saber direito o que era isso. Foi meu pós-faculdade, então achei que merecia aquele presente. E o mais simbólico, foi uma espécie de despedida de um relacionamento de 3 anos que eu sentia que já não ia bem. Ele estava me acompanhando, e a maioria das coisas correu bem, então, de todos os momentos ruins que aconteceram naquela época, esta viagem é o que primeiro me vem à mente quando me recordo do término. E isso é bom.
Eu me lembro de estar deslumbrada com tudo - desde a viagem de ônibus saindo da rodoviária do Tietê em São Paulo (e meu medo de passar quase 5 horas sentada - sendo que não muito tempo depois, quando tomei gosto pela coisa, encarei 16), pegar um táxi sozinha, os passeios de jeep e escuna (eu nunca tinha entrado em uma antes), o maravilhoso peixe no leite de coco do qual jamais me esqueci (e nunca mais provei igual), os cafés da manhã na areia da Praia do Pontal, com o reflexo do sol fazendo os olhos doerem, o Centro Histórico e as lojinhas de artesanato, os restaurantes rústicos (jantei em um uma noite que pretendia ser uma taverna), as barraquinhas de artesanato. Tudo visto com uma câmera filmadora sem vergonha da 25 de março pendurada no pescoço.
Tirei poucas fotos dessa viagem. Mas praticamente cada passo está registado em vídeo tremido e de má qualidade - por isso as fotos que compartilho com vocês estão todas ruins. Já os momentos, estes foram bons!







Mas às vezes as coisas simples são as mais complicadas de se encontrar



“Como dizem os tibetanos, “não é preciso uma experiência mística para descobrir que o mundo é bom”. Basta perceber as coisas belas e simples à sua volta.
Quando tem medo, concentra-se nos pequenos milagres da vida diária. Se é capaz de ver o que é belo, é porque traz a beleza dentro de si – já que o mundo é um espelho, e devolve a cada homem o reflexo de seu próprio rosto.
Embora conhecendo seus defeitos e limitações, faz o possível para manter o bom-humor nos momentos de crise. Afinal de contas, o mundo está se esforçando para ajudá-lo, mesmo que tudo à sua volta pareça dizer o contrário.”


Paulo Coelho

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Sobre o infinito (a)mar



"Sim, amo-o. O mar é tudo. Cobre sete décimos do globo terrestre. O seu hálito é são e puro. É um imenso deserto onde o homem nunca está só. O mar é o veículo de uma existência sobrenatural e prodigiosa. É movimento e amor. É o infinito vivo, como afirmou um dos seus poetas. Nele reina a suprema tranquilidade. O mar não pertence aos déspotas.
Ah! O senhor deveria viver no seio dos mares! Só aí há independência. Aí não reconheço amos. Sou livre!"

Do livro Vinte Mil Léguas Submarinas.

Sobre renovação


“Ninguém quer morrer. Mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer pra chegar lá. E mesmo assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca escapou a ela. E é como deveria ser, porque a Morte é muito provavelmente a melhor invenção da Vida. É o agente de mudança da Vida. Ela tira o velho do caminho pra dar espaço pro novo. (...) Me desculpe por ser tão dramático, mas é totalmente verdade. Seu tempo é limitado, então não gaste vivendo a vida de outra pessoa. Não caia na armadilha do dogma – que é viver com os resultados do pensamento de outra pessoa. Não deixe o ruído da opinião alheia sufocar sua voz interior. E mais importante, tenha coragem de seguir seu coração e sua intuição. Eles de alguma forma já sabem o que você realmente quer se tornar. Tudo o mais é secundário.” 

Steve Jobs.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Sobre despedidas


Ela não vai mais voltar. Eu fiquei sem ela, em pé frente à velha paisagem, observando o caminho que ela percorreu. Eu já não reconheço este lugar sem ela.

Ela morreu com um tubo na garganta, e agora me falta o ar. Ela morreu com o coração implorando repouso, e agora é o meu que se recusa a bater. Ela morreu sem conseguir abrir os olhos, sem conseguir encontrar a voz. E agora eu sinto em meus braços, pernas, garganta e olhos todo o peso das amarras que ela suportou até este momento.

Eu estou imaginando se ela soube que esta era a hora, ou se ainda planejava coisas a fazer. Poucas pessoas são dotadas da grandeza de preparar-se para o fim com coragem, sabedoria e consciência. Eu vejo os chinelos no chão da sala, a presilha de cabelos na estante, as frutas recém-compradas na cozinha e estou certa de que ela desejou voltar pra casa para encontrá-las exatamente no mesmo lugar. Ela não sabia que aquela saída seria a última, que não haveria outro jantar naquela mesa, ou que nunca mais teríamos outra oportunidade de ver a TV juntas no final do dia.

Ela não vai mais voltar. E aquele aceno de cabeça lento, e o esforço para se fazer entender quando desejava que eu voltasse para casa com Deus foram os últimos. Eu não sei quando finalmente a verei de novamente, e essa na minha opinião é a grande angustia da vida. E sua imensa e irônica injustiça foi que ela se despedisse dela exatamente do jeito que não gostaria de viver, cheia de limitações, longe de casa, rodeada de luzes, aparelhos, agulhas, tubos, pessoas estranhas, uma cama que não era a sua. Eu lamento que ela tenha passado por isso. Eu lamento que não houvesse ninguém querido segurando sua mão naquele quarto branco. Eu sinto muito, meu peito está rasgado.

Eu viveria aquilo no lugar dela um milhão de vezes. Eu derramei lágrimas que me queimaram o rosto e pedi à Deus permissão para dividir a dor e a doença, aliviando seu fardo.

Eu barganhei, eu me revoltei, fiz promessas, senti remorso, raiva, tristeza, medo. Mas nada disso foi suficiente. Ela se foi, mas eu sei que não queria ter partido. Deus me ajude, porque eu não sei como me despedir.

Ela fechou os olhos esta noite, e agora eu sinto como se eu nunca mais fosse dormir.