quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Sobre o vazio da procura inútil


"Depois do enterro de (sua mãe) Maria João de Deus, em 29 de setembro de 1915, o garoto (Chico Xavier) teve de esticar as pernas para acompanhar a madrinha. Na volta do cemitério, ela não encurtou os passos para andar de mãos dadas com o afilhado, como fazia a mãe dele. Ofegante, o menino alcançou Rita, mas o esforço foi um desperdício. Sua mão ficou balançando à procura dos dedos da madrinha.
– Ainda hoje sinto no braço a sensação do vazio, da procura inútil – lamentou Chico, 65 anos depois, já conformado."

As vidas de Chico Xavier - Biografia Definitiva.
Marcel Souto Maior

sábado, 1 de janeiro de 2022

Sobre a morte que não é capaz de apagar uma vida


Meu avô nos deixou nesta última semana do ano, parece-me que aproveitando-se do período de encerramento de ciclos. Ele partiu depois de um problema de saúde inicialmente simples, mas que, a meu ver, foi o único argumento que ele precisava para desistir de sua existência terrestre depois da partida da minha avó há dois anos. Apesar de ele não falar muito sobre ela neste período, sei que 60 anos não são 60 dias e que a ausência dela o impactou profundamente.

Um mês antes de adoecer ele contou ter sonhado com ela, e que ela parecia feliz. Do mesmo modo durante o adoecimento, ainda muito lúcido, dizia vê-la no quarto, sorrindo. O mesmo aconteceu no hospital, quando ela o acompanhava nas internações. Acredito que ele sabia que sua missão estava se encerrando e apesar de todos os dias pedir alívio a Deus, imagino que ele ainda tinha medo do momento da despedida, motivo pelo qual pedia todos os dias para que a porta do seu quarto ficasse sempre bem aberta.

Algumas vezes eu o observava dormir apenas para me certificar de que ele respirava. E em outras eu ficava olhando de longe seus olhos atentos e os lábios que se mexiam em resposta a algo que eu não era capaz de ver.

Quando percebi o curso que sua doença estava tomando, não sinto arrependimento ao lembrar do meu desespero frente à resignação e entrega em seus olhos, e implorava, com o coração apertado e a voz alterada, para que ele se esforçasse para levantar da cama, que pegasse a viola, que lesse comigo a bíblia que tinha sempre em mãos. Sua única resposta era me pedir perdão por ser fraco - embora tenha vivido como um verdadeiro herói durante todas as batalhas que enfrentou para cuidar de sua família.

Eu fico imaginando se suas visões descontruíram, nos passos finais de sua jornada terrestre, o que acreditou a vida inteira baseado em sua religião. Será que perceber minha avó, sua companheira de uma vida, ao lado dele, o ajudou a desapegar-se e despedir-se?

Espero de todo o coração que sim, porque em nenhuma das despedidas que sofri eu fui capaz de ver tantos sinais. Seja no neto de 3 anos que perguntou, horas antes de sua partida, quando já estava inconsciente, se era verdade que o avô havia nos deixado. Ou na luz da varanda de casa que se acendeu dois minutos antes que eu recebesse a notícia (aquela sobre a qual sempre brigávamos para que ficasse desligada por causa do aumento da conta de energia).

Mas a mais bonita de todas é a imagem que quero levar para sempre em minha mente, seja verdadeira ou não. Para ela, eis um contexto: em sua juventude, ele e minha avó construiram com as próprias mãos uma casa da qual saíram a contragosto em razão da dificuldade que suas escadarias provocavam frente às limitações da idade avançada. Foi nesta casa que passei todas as minhas férias escolares, na qual deposito a maior parte de minhas memórias afetivas, e onde inúmeras vezes eu fui convidada a me juntar a eles na varanda para, sentada nas poltronas, observar a chuva chegando. 

Foi um desses lindos temporais de verão que caiu no exato momento em que seu corpo era deixado em repouso ao lado do de minha avó, como eles sempre desejaram. Neste mesmo dia, mais tarde, recebemos a ligação de uma vizinha da antiga casa contando emocionada que, ao passar correndo por ela para fugir do temporal que se aproximava, pode ver meus avós na varanda, juntos, observando no horizonte, como tantas vezes fizeram durante toda a vida, a chuva que se aproximava.

A morte, apesar de tê-lo roubado de nós, não foi capaz de apagar sua vida. As cordas da viola caipira já não vibram, mas sua música continuará ressonando em meu coração para sempre.

domingo, 23 de maio de 2021

Sobre o Lado B daquela viagem à Ponta Grossa


Esta foi minha última viagem "de verdade" antes da pandemia surgir e trazer todo esse pesadelo que temos vivido.

Eu teria a oportunidade de passar um final de semana com a Paty, uma de minhas mais queridas amigas. E ambas atravessávamos aquele período em que se reaprende a viver depois de enfrentar experiências difíceis. Era a oportunidade de exorcizarmos nossos demônios.

E de certo modo a tarefa não parecia difícil, a começar pelo nome do atrativo: "Buraco do Padre", que ficava vizinho à "Fenda da Freira". Localizados na cidade de "Ponta Grossa", na região Sul do país, que é na minha opinião, o lugar onde mais se concentra gente bonita e com sotaque gostoso de ouvir por metro quadrado. E o plus: eu tinha um crush antigo no guia que nos acompanharia. Sim, eu estava ansiosa. Mas de um jeito bom.

Começou comigo e a Paty nos encontrando com um quase atraso numa sexta-feira à noite, depois de trabalhar durante todo o dia. Tivemos a oportunidade de elogiar o novo corte de cabelo uma da outra por 5 minutos antes de cairmos em sono profundo na poltrona do ônibus que nos faria chegar ao interior do Paraná na manhã seguinte.

Depois de 3 anos fazendo este tipo de viagem (ouso dizer todos os meses), posso afirmar que considero dormir no ônibus algo confortável. Não digo o mesmo de viagens de avião. Essas são um inferno. As vezes penso nos países distantes que gostaria de conhecer um dia, e um grande sentimento de desânimo me abate quando lembro do sofrimento do trajeto necessário até lá. Pois bem, se dormir no ônibus já é algo corriqueiro pra mim, por outro lado acordar no destino no dia seguinte, com o rosto oleoso, sem escovar os dentes e com 40 pessoas ao seu redor em um ônibus fechado, de vidros suados, é algo com que jamais me acostumarei (sobretudo em um mundo pós-covid-19).


Talvez tenha sido esse desconforto (ou o nervosismo que sentia enquanto o dito crush repassava [pelo menos 5 vezes] as orientações sobre o que deveríamos fazer com nossa bagagem antes de mudarmos de transporte) que me fizeram iniciar uma série de piadas (sem graça e sem fim) que foram percebidas e irritaram a maioria das pessoas presentes, e como lição de vida (talvez por intervenção divina) causaram uma das maiores vergonhas daquele final de semana. Mas voltemos pra cá mais tarde...

Foi um dia gostoso. Ensolarado, mas não muito quente. Com trilhas, cachoeiras, araucárias por todos os lados, restaurantes pitorescos com cara de fazenda onde com certeza mora uma vó, e um curral de ovelhas deveras bucólico. Fizemos trilha, tiramos fotos, debochamos de pessoas, tiramos mais fotos, gravamos vídeos (que têm me ajudado a sobreviver durante a quarentena) e evitamos a água (por frio e também por estarmos vivendo "dias não-úteis" do mês). A cereja do bolo era o calorzinho no coração toda vez que olhava para o crush e, às vezes, percebia o olhar dele de volta (claro que, no caso dele, o monitoramento tratava-se de algo puramente profissional e não infectado por intenções duvidosas como as minhas - uhh).

Tudo correu bem. O Buraco do Padre é lindo (e frio). A Fenda da Freira um pouco claustrofóbica, cheia de teias de aranha [comentário infame, mas honesto] e de difícil acesso (mentira: a parte mais desafiadora pra mim foi descer a escadinha de 5 degraus de costas, puramente pelo medo da altura de 3 metros, no máximo). Mas o que me causava ansiedade (e minhas famosas borboletas no estômago) era a noite (TODO MUNDO ESPERA ALGUMA COISA DE UM SÁBADO À NOITE), quando jantaríamos todos juntos (e normalmente quando coisas malfeitas acontecem em situações nas quais jovens se reúnem longe de casa).

Aqui abro um parêntese: com todos esses termos atuais para definir a orientação sexual das pessoas, me atrevo a dizer que talvez eu seja demissexual. Eu vejo corpos, considero-os bonitos, mas só sinto algum tipo de atração ou desejo por eles a partir do momento em que os atribuo algum significado - normalmente quando passo a admirar alguma característica de seu dono. E depois de alguns encontros agradáveis, havia muito que eu admirava naquele crush.

Eu me sentia ansiosa naquela noite. Apesar de saber que nada aconteceria porque seria totalmente antiético (meu crush estava a trabalho) e eu jamais (ninguém comete o mesmo erro pela segunda vez) seria a sem noção a forçar alguma coisa. Mas minha vontade de viver depois de alguns meses tristes me fazia sentir o rosto quente enquanto o observava andando perto de mim. À medida que a noite se aproximava, eu tentava ser charmosa, misteriosa e parecer inteligente pra ter pelo menos um tiquinho só da atenção dele.

Mas como este texto faz parte da minha série LADO B, é de esperar que as coisas boas duraram muito pouco: chegando ao hotel, enquanto todos retiravam suas malas da recepção para subir aos quartos e se prepararem para o jantar, minha primeira triste constatação: no meio de todas as minhas piadas da sessão da manhã, entendi pouco (ou nada) sobre as orientações e deixei toda minha bagagem no ônibus. A segunda constatação: o ônibus não estava no hotel. Estava na garagem. A terceira constatação: a garagem ficava do outro lado da cidade. Tomada pela vergonha, e querendo ser o mais discreta possível, tentei resolver o problema diretamente com a recepção, o que obviamente não funcionou. A solução: acionar o crush e confessar, com minha cara não-lavada cheia de terra da trilha da qual tínhamos acabado de retornar, toda minha falta de atenção. Senti que tinha deixado minha dignidade dentro do Buraco do Padre naquela tarde.

Sem demonstrar nenhuma compaixão, me oferecer um abraço ou um consolo carinhoso, ele pediu ao motorista que abrisse o ônibus na garagem, e que eu chamasse um Uber. Quando começava a me encher de esperança pela viagem até lá (ele sentaria ao meu lado e seguraria minha mão?), o carro chega, eu entro, a Paty entra, o motorista entra, e ele fica pra trás, observando da escada em frente ao hotel. "Ué, você não vai com a gente? Não, eu preciso me arrumar para acompanhar o pessoal no jantar". E foi assim que terminei minha noite de sábado [pelo menos pensei que seria]: envergonhada, suja com todas as teias de aranha da Fenda da Freira, passando frio dentro de um Uber que rodava por Ponta Grossa, e acompanhada não do crush, mas da Paty, do motorista do ônibus, e também do motorista do Uber (que foram muito gentis nos ajudando).

Pegamos nossas coisas na garagem escura enquanto a Paty tentava organizar suas vontades contraditórias de me xingar e de fazer piadas sobre mim. No retorno ao hotel, já sem ânimo para jantar (mas ainda assim com fome), tentamos encontrar outro restaurante (chegar ao fim do evento seria mais uma vergonha), mas como não fomos bem sucedidas nisso, entramos e nos sentamos na ponta da mesa onde todos estavam reunidos animadamente, com os pratos já vazios à frente.
Quando nossos hambúrgueres chegaram, o crush insistiu que pulássemos algumas cadeiras para comermos perto dele. Sentindo a esperança retornar ao coração, me arrastei pra perto, só pra receber o nocaute: um bichinho roliço, gorducho e verde se movimentando no meio da alface no prato.

E foi assim que me tornei a exceção à regra e deixei de esperar qualquer coisa de sábados à noite. Desculpe, Lulu Santos.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Sobre a espera


A maior parte dos meus textos tem sido um registro de tudo o que senti desde que o conheci, e as coisas que este sentimento me levou a fazer, ou em um sentido mais profundo, ser.

Eu nunca me dei conta de maneira tão explícita a respeito do significado de ter arrastado, durante mais de 10 anos depois do nosso primeiro encontro, o pensamento até você periodicamente.

Não digo que pensei em você diariamente neste período. Por anos, ou meses, consegui me dedicar a outras tarefas ou pessoas, mas é unanimidade que em todos os momentos escrachadamente felizes da minha vida, eu tenha imaginado como seria tê-lo compartilhado com você.

Você foi, sob todos os aspectos, a pessoa que menos encorajou o modo como me sentia em relação a você mesmo. E ainda assim, aqui estou eu, sentada escrevendo enquanto penso em no mínimo 5 possibilidades de não permitir que minha vida acabe sem que eu tenha tocado meus lábios nos seus depois de inspirar profundamente o perfume do seu pescoço.

Eu poderia simplesmente te procurar e dizer tudo o que sinto. Mas acredito que mais uma vez você usaria todas as teorias que conheço bem para racionalizar o modo como você me afeta. Ou poderia me julgar por mentalmente instável. Mas eu sei que a existência de uma ciência que explique este sentimento não o torna menos real.

E na verdade eu concordaria com você: preciso de terapia para aprender a lidar melhor com o desespero que me toma (nos últimos meses com certa frequência) quando penso na possibilidade de nunca mais poder tocá-lo. Esta esperança tem sido o que me faz continuar. Que vida vazia ela seria sem isso.

Eu não sei que tipos de realizações você alcancou até agora, com quem está se relacionando ou qual seu momento de vida. Mas isso não muda em nada a certeza de que quando nos encontrarmos novamente, este encontro será como o primeiro que tivemos (talvez você não se lembre deste momento que insisto em evocar sempre: você em pé sozinho, organizando seus papéis enquanto eu me impressionava com sua altura. Você notou minha surpresa naquela noite? Talvez sim porque em meio a outros 20 desconhecidos, se aproximou de mim para fazer uma pergunta trivial e me assustou com a proximidade do seu rosto, me levando a dar um passo para trás e me arrepender instantaneamente pela grosseria).

Até que este novo encontro chegue, eu continuarei aqui escrevendo para encurtar a espera. Que você possa tomar conhecimento destes textos um dia. Eles são minha prova irrevogável de que nunca deixei de pensar em você desde que fomos embora, sem ao menos nos despedir.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Sobre a lembrança do Natal passado e o silêncio que faz chorar



Enchi meu mês de dezembro com Peanuts, Quebra-Nozes, todo tipo de coisas vermelhas e verdes e luzinhas de led. Ainda assim sinto que deveria ter aproveitado mais o Natal este ano, porque desde que minha mãe voltou para o interior nesta manhã de domingo eu não paro de olhar para a casa vazia e chorar. A tarde de ontem foi tão boa (apesar do momento em que senti que desmaiaria se passasse mais 3 segundos em frente à TV) porque ficamos o tempo todo vendo uma seleção de filmes de Natal enquanto ela se oferecia para fazer drinks coloridos com corote. Nossa noite terminou com cerveja, pimenta mexicana e mais cinema. 

No dia de Natal dedicamos grande parte do tempo aos VHS antigos gravados pelo meu pai nos anos 90', enquanto brincávamos com os "53" animais em casa (entre os gatos dela e os meus cachorros) e ríamos com as lembranças dos nossos amores que já não estão mais aqui (essas datas me trazem uma melancolia tão grande, e dessa vez julguei que mais efetivo do que criar memórias, seria revivê-las). 

Eu não sei se minha crise contínua de choro vem do fato de eu ter vivido um ano de m*rd@ e percebido o quanto eu estava sozinha sem o colo da minha mãe, ou o desespero de voltar para um mundo totalmente diferente do qual eu vivi durante os últimos quatro dias protegida em casa.

Enquanto tento descobrir, fico aqui tão incomodada com o silêncio a ponto de ligar a TV no mesmo canal que assistimos ontem pra ver outro filme de natal (é, daqueles que eu não aguentava mais menos de 24 horas atrás), derramando lágrimas a cada gole do copo com batida de menta repousado na toalha de mesa de Papais Noéis.

Que época mais triste.

domingo, 22 de novembro de 2020

Sobre amores platônicos de escritório



Havia algo nele que já falava comigo desde que nos conhecemos - ou muito pouco depois disso.

Recordo-me de como me senti identificada com ele quando soube que tocava em uma banda de rock - e do meu esforço durante a festa de fim de ano do escritório para fazê-lo perceber que tínhamos isso em comum quando rolou um som dos anos 80.
A mesma coisa aconteceu quando vi em sua mesa um CD do Whitesnake e mencionei o show no qual tinha estado recentemente, apenas para descobrir que nós dois havíamos sido público daquela apresentação. Nosso primeiro vínculo.
Foram algumas situações como estas para colecionar desde então. Um comentário sobre o último filme de Star Wars ou a respeito do tema de uma camiseta me fizeram chegar onde estou hoje.
Passei uma viagem inteira ao Jalapão ouvindo repetidamente o rock nacional de um pendrive achado na Hilux alugada (a única música disponível), sem entender o motivo de imaginar se ele também vivia experiências similares, sentindo-se livre e vivo durante o percurso.

Mas foi somente na semana passada, depois de mais de 6 anos vendo-o dia após dia, que pude perceber o quanto ele me afeta. Foi um comentário inocente, repleto de testemunhas e pensado para ser uma piada em relação à minha urgência em resolver um problema com a ajuda dele depois da semana em que ele ficou fora do escritório. Eu falei rindo. E assim lutei internamente para continuar enquanto seu rosto se tornou vermelho e  incapaz de direcionar os olhos para mim.

Acho que foi a reação dele o que me fez enxergá-lo como uma possibilidade. E apesar da imensa consciência do platonismo desse sentimento, passei a prestar atenção em todos os detalhes da nossa convivência: uma visita à minha sala ao invés do uso do ramal, pequenos comentários pessoais que passaram a revelar discretos aspectos de humanidade, a cumplicidade nos sorrisos e olhares que começamos a trocar em situações que antes eram apenas problemáticas e pelas quais agora anseio, os toques ocasionais nos ombros e principalmente a melancolia quando vejo que seu carro não está mais no estacionamento.

Eu que passei o último ano muito próxima do esgotamento em razão de todas as situações limítrofes às quais fui exposta, agora até consigo sentir satisfação por estar vivendo tudo isso com ele.

E absolutamente nada de bom pode vir desse novo panorama.
Preciso encontrar com urgência um novo emprego. Ou uma forma de fazer as coisas voltarem a ser como eram antes. 

Enquanto isso, retomo a adesão ao home office.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

'Sobre o desafio "31 DIAS DE TERROR": Dias 2 e 3 - Frankenstein (1931) e A noiva de Frankenstein (1935)


SEMANA 1: MONSTROS CLÁSSICOS

Os filmes de monstros praticamente inauguraram o gênero de terror no cinema mainstream. Entre as décadas de 1920 e 1950 a Universal Pictures investiu pesado neste tipo de filme, levando às telonas monstros já conhecidos da literatura, como o vampiro Drácula, Frankenstein, Dr. Jekyll & Mr. Hyde e o Homem Invisível, por exemplo. 

Atores como Boris Karloff e Bela Lugosi se imortalizaram em seus papéis horripilantes. A fórmula fez tanto sucesso que o estúdio investiu até em crossovers destes monstros, que chegaram a dividir tela em algumas produções.

Agenda de filmes: 

01/10 – Drácula de Bram Stoker (1992)

02/10 – Frankenstein (1931)

03/10 – A Noiva de Frankenstein (1935)

04/10 – A Noite dos Mortos-Vivos (1968)

05/10 – O que fazemos nas sombras (2014)

06/10 – Um Lobisomem Americano em Londres (1981)

07/10 – O Homem Invisível (2020)

 

Eu gostei muito de rever esta sequência. Estranhamente, tinha a impressão de que o Frankenstein dos livros não era tão monstruoso como nos filmes, havendo nele uma réstia de humanidade expressa no vínculo com seu criador, que na minha percepção praticamente inexiste no decorrer destas obras (apesar de ficar evidente em uma das últimas cenas de "A Noiva de Frankenstein" quando poupa a vida de Dr. Henry.
No mais, esses clássicos em P&B me dão um calorzinho no coração!


Eis aqui algumas curiosidades sobre filmes:

Dois clássicos do cinema de horror, Frankenstein (1931) e A Noiva de Frankenstein (1935), estrelados por Boris Karloff, merecem ser revisitados em qualquer época.


Foi há 200 anos que Frankenstein viu a luz do dia. A ideia do romance surgiu em uma noite chuvosa de verão na Suíça, onde Mary Shelley passava férias ao lado de dois poetas ingleses: Percy Bysshe Shelley, seu futuro marido, e o célebre Lord Byron, locatário da residência onde o casal estava hospedado. Como os três estavam presos em casa em função da tempestade, Lord Byron sugeriu um passatempo. O poeta, ícone do romantismo, desafiou cada um dos presentes a escrever uma história de fantasmas (e não poderia haver atmosfera mais adequada à temática!).

Em um primeiro momento, Mary Shelley relutou em aceitar o desafio. Alguns dias depois, entretanto, a escritora teve a visão de um jovem estudante dando vida a ossos que havia recolhido de uma sepultura. Assim, com apenas 18 anos, Mary Shelley criou Frankenstein. A ideia virou um conto e foi apresentado aos demais presentes na casa. Esta é a primeira cena de "A Noiva de Frankenstein".

A ideia de adaptar o romance de Mary Shelley surgiu na sequência do sucesso de “Drácula” (1931) também produzido pela Universal Studios. Vindo deste sucesso, Bela Lugosi tinha sido originalmente escalado como Dr. Frankenstein. Mas o papel de Lugosi foi modificado para ser o monstro, que era mudo, e ele recusou após alguns testes ruins com a maquiagem, sendo então substituído por Boris Karloff, que na época era um ator inglês pouco conhecido de 44 anos de idade. A decisão tomada pelo ator húngaro é geralmente apontada como o maior erro da carreira, já que depois de “Drácula”, ele nunca mais conseguiu um papel à sua altura, vivendo na sombra do vampiro até à data da sua morte, quando foi enterrado com a capa de seu personagem.


Já Karloff conseguiu aproveitar a fama adquirida e desenvolver uma carreira de sucesso no cinema de terror longe de “Frankenstein”. O ator fez cerca de 140 filmes, a maioria deles com temática fantástica. Ao longo de mais de 50 anos de carreira, Karloff só voltou mais duas vezes a Frankenstein, nas sequencias “A noiva de Frankenstein” (1935) — que imortalizou Elsa Lanchester no papel da noiva, com o seu cabelo preto ondulado e madeixas brancas em forma de raio, apesar de aparecer apenas durante alguns minutos em cena — e “O filho de Frankenstein” (1939) — que contou com a participação de Bela Lugosi no papel de Ygor, um ferreiro com uma deformação no pescoço.

A trilha sonora de A Noiva de Frankenstein fez tanto sucesso que foi reutilizada na série do personagem Flash Gordon estrelada por Buster Crabbe.

Fontes: Cinema Livre, TAG Livros, Dalengare, Observador.pt e Boca do Inferno.