2019

domingo, 10 de novembro de 2019

Sobre meus sublinhados em "A Ladeira da Saudade"


Comprei uma edição antiga de "A Ladeira da Saudade", de Ganymédes José, em um sebo pouco antes de viajar para Ouro Preto durante minhas férias. Tanta coisa aconteceu a partir desta viagem (e algumas delas tristes, daquelas pra gente ficar remoendo durante toda a vida pensando se poderia ter sido diferente) que acabei deixando o livro de lado.
Neste final de semana cinzento resolvi dar uma segunda chance a ele e, apesar de tudo, foi uma delícia relembrar cada lugar pelo qual passei nessa cidade que carrega tanta história. A cidade dos rebeldes, a cidade dos amores.

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“Os chafarizes, as pontes, os regatos, as esquinas, aqui eles falam!Nas sombras dos janelões e portas das velhas casas, o fantasma da História passeia, procurando ouvintes...A carinhosa chuva lava os telhados  que se apoiam, unidos como crianças de mãos dadas.Em cada pedra-saudade destas ruas, eu vi e ouvi a dança dos anos; a dança da alegria triste e da tristeza alegre; a dança dos grandes amores!Quem foi Gonzaga?Quem foi Dorotea?E onde estão... Agora?”.
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"Ouro Preto era mesmo uma cidade encantada de um conto de fadas. Das lojas, portas e janelas, abertas para a rua, emanava um cheiro misterioso. Mofo? Não era isso. Era cheiro de coisas antigas, de lembranças: 'Se saudade tiver cheiro,  é esse o cheiro da saudade'".

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"Sem dúvida o barroco era a linfa que sustentava aquele encantado mundo de casinhas de boneca. Pareciam brincar na montanha-russa para baixo, para cima, para baixo, para cima... Seria suficiente explicar à Laís: 'Imagine que você acaba de entrar em um presépio'. Talvez, fosse mesmo esse o melhor modo de definir aquele mundo de portinholas, janelões, grades de ferro, pedras entalhadas, porões escuros, torres, sacadas, cores contrastantes, muros, obeliscos, lampiões, lanternas, chafarizes, bancos pesadões, praças irregulares, ruas estreitas, ladeiras em curvas apertadíssimas (...). Era um mundo de torres de igrejas erguidas aqui e ali, por toda a parte. Ouro Preto era tudo aquilo, enraizado no ouro que ainda dormia debaixo daquela terra."

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Sobre o Dia das Bruxas


Eu sempre (sempre de verdade, desde quando assisti pela primeira vez o filme "Abracadabra" da Disney), imaginava como seria fantástico ter idade suficiente para participar das festas de Dia das Bruxas, quando colocaria minha fantasia super descolada e sairia com minha sacola-abóbora batendo na porta dos vizinhos, acompanhada das outras crianças vizinhas, pedindo doces.
Descobri depois de um tempo que nasci no país errado. E então comecei a esperar não pelas festas infantis, regadas a chocolate, e sim pelas adultas, com álcool. Embora ainda não estivesse habilitada a consumir alcoólicos legalmente (e de fato, se bem me lembro não consumi nada além de refrigerante), minha primeira festa de Halloween aconteceu em uma escola de informática, por volta dos 13 ou 14 anos, em uma sexta à noite. Lembro da blusa preta com manga de morcegão, do crucifixo no pescoço (naquela época era moda ser gótico) e do batom preto (queria ter pelo menos uma foto disso, mas acho que naquela época mal existiam máquinas E de qualquer modo só serviria pra me fazer sentir vergonha - infelizmente não-alheia). Quase morri de emoção quando entrei na escola pouco iluminada, decorada em neon, com uma ambientação musical assustadora. Foi uma das noites mais memoráveis da minha vida porque, além de ser uma das minhas primeiras festas de adolescente, ainda rolava uma paquera com um colega de turma (mas nada aconteceu. Nem naquela noite, nem nunca. Azar de dia das bruxas, talvez).
Depois disso o que veio nem vale a pena ser mencionado: festas de bar com chifrinhos de led e também aquelas de família, onde a gente mais rí um do outro "fantasiado" do que bebe ou reflete sobre a temática.
Acho que foi por toda a expectativa da infância, ou pela ansiedade na experiência da minha primeira festa de Halloween na adolescência, mas o fato é que eu jamais consegui superar essa época. Chega outubro e eu já preparo minha programação cuidadosamente, com filmes e livros próprios para cada dia, finalizando o dia 31 com o bom e velho Abracadabra.
Por tudo que foi exposto acima, para compartilhar minha história pessoal sem parecer que eu me valorizo demais, e principalmente por pura falta do que fazer, resolvi incluir aqui alguns dados sobre esta festa que até hoje me faz querer ter nascido americana, deixando este post pelo menos um pouquinho mais informativo (ou não).

DE ONDE VEM O NOME?
O Halloween tem suas raízes não na cultura americana, mas no Reino Unido.
Seu nome deriva de "All Hallows' Eve". "Hallow" é um termo antigo para "santo", e "eve" é o mesmo que "véspera". O termo se referia, até o século 16, à noite anterior ao Dia de Todos os Santos, celebrado em 1º de novembro.
 Desde o século 18, historiadores apontam para um antigo festival pagão ao falar da origem do Halloween: o festival celta de Samhain (que significa "fim do verão"). O Samhain durava três dias e começava em 31 de outubro. Segundo acadêmicos, era uma homenagem ao "Rei dos mortos". Estudos recentes destacam que o Samhain tinha entre suas maiores marcas as fogueiras e celebrava a abundância de comida após a época de colheita. O problema com esta teoria é que ela se baseia em poucas evidências além da época do ano em que os festivais eram realizados.
A comemoração, linguagem e o significado do festival mudavam conforme a região. Os galeses celebravam, por exemplo, o "Calan Gaeaf". Há pontos em comum entre ele e o Samhain (este segundo de comemoração predominantemente irlandesa e escocesa), mas há muitas diferenças também.
Em meados do século 8, o Papa Gregório 3º mudou a data do Dia de Todos os Santos de 13 de maio (a data do festival romano dos mortos) para 1º de novembro, a data do Samhain. Não se tem certeza se Gregório 3º ou seu sucessor, Gregório 4º, tornaram a celebração do Dia de Todos os Santos obrigatória na tentativa de "cristianizar" o Samhain. Mas, quaisquer que fossem seus motivos, a nova data para este dia fez com que a celebração cristã dos santos e de Samhain fossem unidos. Assim, tradições pagãs e cristãs acabaram se misturando.

MAS COMO ELE TOMOU FORMA?
O Dia das Bruxas que conhecemos hoje tomou forma entre 1500 e 1800.
Fogueiras tornaram-se especialmente populares a partir no Halloween. Elas eram usadas na queima do joio (que celebrava o fim da colheita no Samhain), como símbolo do rumo a ser seguido pelas almas cristãs no purgatório ou para repelir bruxaria e a peste negra.
Outro costume de Halloween era o de prever o futuro: previa-se a data da morte de uma pessoa ou o nome do futuro marido ou mulher. Em seu poema Halloween, escrito em 1786, o escocês Robert Burns descreve formas com as quais uma pessoa jovem podia descobrir quem seria seu grande amor (você consegue ler em inglês neste link aqui: http://www.robertburns.org/works/74.shtml)
Muitos destes rituais de adivinhação envolviam a agricultura. Por exemplo, uma pessoa puxava uma couve ou um repolho do solo por acreditar que seu formato e sabor forneciam pistas cruciais sobre a profissão e a personalidade do futuro cônjuge. Outros incluíam pescar com a boca maçãs marcadas com as iniciais de diversos candidatos, a leitura de cascas de noz, e até olhar um espelho e pedir ao diabo para revelar a face da pessoa amada.
Comer era um componente importante do Halloween. Um dos hábitos mais característicos envolvia crianças, que iam de casa em casa cantando rimas ou dizendo orações para as almas dos mortos. Em troca, eles recebiam bolos de boa sorte que representavam o espírito de uma pessoa que havia sido liberada do purgatório.
Igrejas costumavam tocar seus sinos, às vezes por toda a noite. A prática era tão incômoda que o rei Henrique 3º e a rainha Elizabeth tentaram bani-la, mas não conseguiram. Este ritual prosseguiu, apesar das multas regularmente aplicadas a quem fizesse isso.

E COMO CHEGOU ATÉ A AMÉRICA?
Em 1845, durante o período conhecido na Irlanda como a "Grande Fome", um milhão de pessoas foram forçadas a imigrar para os Estados Unidos, levando consigo sua história e tradições.
Não é coincidência que as primeiras referências ao Halloween apareceram na América pouco depois disso. Em 1870, por exemplo, uma revista feminina americana publicou uma reportagem em que o descrevia como feriado "inglês".
A princípio, as tradições do Dia das Bruxas nos Estados Unidos uniam brincadeiras comuns no Reino Unido rural com rituais de colheita americanos. As maçãs usadas para prever o futuro pelos britânicos viraram cidra, servida junto com rosquinhas, ou "doughnuts" em inglês.
Também o milho, uma cultura importante da agricultura americana, acabou entrando na simbologia característica do Halloween dos EUA: no início do século 20, espantalhos (típicos de colheitas de milho) eram muito usados em decorações do Dia das Bruxas.
Também foi na América que a abóbora passou a ser sinônimo de Halloween. No Reino Unido, o legume mais "entalhado" ou esculpido era o turnip, um tipo de nabo. Há uma lenda sobre um ferreiro chamado Jack que conseguiu ser mais esperto que o diabo e vagava como um morto-vivo deu origem às luminárias feitas com abóboras que se tornaram uma marca do Halloween americano, marcado pelas cores laranja e preta.
A tradição moderna de “doces ou travessuras” surgiu nos Estados Unidos. Há indícios dela em brincadeiras medievais nas quais se utilizavam repolhos, mas pregar peças tornou-se um hábito nesta época do ano entre os americanos a partir da década de 1920. As brincadeiras se popularizaram de vez após a Segunda Guerra Mundial, quando o racionamento de alimentos acabou e doces podiam ser comprados facilmente.
Mas a tradição mais popular do Halloween, que é usar fantasias e pregar sustos, não tem qualquer relação com doces. Ela veio após a transmissão de Guerra do Mundos, do escritor inglês H.G. Wells, através do rádio, e gerou uma grande confusão quando foi ao ar, em 30 de outubro de 1938. Ao concluí-la, o ator e diretor americano Orson Wells deixou de lado seu personagem para dizer aos ouvintes que tudo não passava de uma pegadinha de Halloween e comparou seu papel ao ato de se vestir com um lençol para imitar um fantasma e dar um susto nas pessoas.

A FESTA MODERNA.
Hoje, o Halloween é o maior feriado não-cristão dos Estados Unidos. Em 2010, superou o Dia dos Namorados e a Páscoa como a data em que mais se vende chocolates. Ao longo dos anos, foi "exportado" para outros países, entre eles o Brasil.
Por aqui, desde 2003, também se celebra nesta mesma data o Dia do Saci, fruto de um projeto de lei que busca resgatar figuras do folclore brasileiro, em contraposição ao Dia das Bruxas.
Em sua "era moderna", o Halloween continuou a criar sua própria mitologia. Em 1964, uma dona de casa de Nova York chamada Helen Pfeil decidiu distribuir palha de aço, biscoito para cachorro e inseticida contra formigas para crianças que ela considerava velhas demais para brincar de "doces ou travessuras". Logo, espalharam-se lendas urbanas de maçãs recheadas com lâminas de barbear e doces embebidos em arsênico ou drogas alucinógenas.
Atualmente, o festival tem diferentes finalidades: celebra os mortos ou a época de colheita e marca o fim do verão e o início do outono no hemisfério norte. Ao mesmo tempo, vem ganhando novas formas e dado a oportunidade para que adultos brinquem com seus medos e fantasias de uma forma socialmente aceitável.
Ele permite revolucionar padrões sociais como evitar contato com estranhos, ou explorar o lado negro do comportamento humano. Une religião, natureza, morte e romance. Talvez seja este o motivo de sua grande popularidade.

💬 Referências: BBC.com.br

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Paraty e a primeira sensação de liberdade


Espremida entre a serra e o mar no estado do Rio de Janeiro, Paraty é uma cidade colonial que nasceu no ciclo da cana-de-açúcar e enriqueceu no ciclo do ouro mas que, depois de perder a posição de mais importante porto de escoamento dos produtos brasileiros, foi aos poucos abandonada e permaneceu em isolamento durante a primeira metade do século 20. Só depois da abertura da estrada Cunha-Paraty, em 1964, e da inauguração da Rio-Santos, em 1972, Paraty, que foi preservada através do tombamento pelo IPHAN em 1958, foi redescoberta.
Seu Centro Histórico é formado por preservados casarões coloniais, igrejas dos séculos 18 e 19 e ruas calçadas pelos escravos em pedras pés-de-moleque, poderoso redutor da velocidade que requer cuidado na caminhada e onde o tráfego de automóveis é proibido, e te obriga a vagar sem pressa pelos traçados das construções, pelos símbolos maçônicos nas quinas das casas, pelas ruas próximas ao cais invadidas pelo mar na maré cheia, apreciando a visão do mar e das montanhas. 

📌 Referências: Viaje na Viagem | Férias Brasil.

Paraty foi a minha primeira viagem "sozinha". Sozinha sem meus pais, porque aquelas para o interior de São Paulo para a casa dos meus avós pela milionésima vez eu não estava contando. Ela aconteceu em janeiro de 2013, quando eu tinha 23 anos.
Foi minha primeira experiência em hostel, mesmo sem sem saber direito o que era isso. Foi meu pós-faculdade, então achei que merecia aquele presente. E o mais simbólico, foi uma espécie de despedida de um relacionamento de 3 anos que eu sentia que já não ia bem. Ele estava me acompanhando, e a maioria das coisas correu bem, então, de todos os momentos ruins que aconteceram naquela época, esta viagem é o que primeiro me vem à mente quando me recordo do término. E isso é bom.
Eu me lembro de estar deslumbrada com tudo - desde a viagem de ônibus saindo da rodoviária do Tietê em São Paulo (e meu medo de passar quase 5 horas sentada - sendo que não muito tempo depois, quando tomei gosto pela coisa, encarei 16), pegar um táxi sozinha, os passeios de jeep e escuna (eu nunca tinha entrado em uma antes), o maravilhoso peixe no leite de coco do qual jamais me esqueci (e nunca mais provei igual), os cafés da manhã na areia da Praia do Pontal, com o reflexo do sol fazendo os olhos doerem, o Centro Histórico e as lojinhas de artesanato, os restaurantes rústicos (jantei em um uma noite que pretendia ser uma taverna), as barraquinhas de artesanato. Tudo visto com uma câmera filmadora sem vergonha da 25 de março pendurada no pescoço.
Tirei poucas fotos dessa viagem. Mas praticamente cada passo está registado em vídeo tremido e de má qualidade - por isso as fotos que compartilho com vocês estão todas ruins. Já os momentos, estes foram bons!







Mas às vezes as coisas simples são as mais complicadas de se encontrar



“Como dizem os tibetanos, “não é preciso uma experiência mística para descobrir que o mundo é bom”. Basta perceber as coisas belas e simples à sua volta.
Quando tem medo, concentra-se nos pequenos milagres da vida diária. Se é capaz de ver o que é belo, é porque traz a beleza dentro de si – já que o mundo é um espelho, e devolve a cada homem o reflexo de seu próprio rosto.
Embora conhecendo seus defeitos e limitações, faz o possível para manter o bom-humor nos momentos de crise. Afinal de contas, o mundo está se esforçando para ajudá-lo, mesmo que tudo à sua volta pareça dizer o contrário.”


Paulo Coelho

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Sobre o infinito (a)mar



"Sim, amo-o. O mar é tudo. Cobre sete décimos do globo terrestre. O seu hálito é são e puro. É um imenso deserto onde o homem nunca está só. O mar é o veículo de uma existência sobrenatural e prodigiosa. É movimento e amor. É o infinito vivo, como afirmou um dos seus poetas. Nele reina a suprema tranquilidade. O mar não pertence aos déspotas.
Ah! O senhor deveria viver no seio dos mares! Só aí há independência. Aí não reconheço amos. Sou livre!"

Do livro Vinte Mil Léguas Submarinas.

Sobre renovação


“Ninguém quer morrer. Mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer pra chegar lá. E mesmo assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca escapou a ela. E é como deveria ser, porque a Morte é muito provavelmente a melhor invenção da Vida. É o agente de mudança da Vida. Ela tira o velho do caminho pra dar espaço pro novo. (...) Me desculpe por ser tão dramático, mas é totalmente verdade. Seu tempo é limitado, então não gaste vivendo a vida de outra pessoa. Não caia na armadilha do dogma – que é viver com os resultados do pensamento de outra pessoa. Não deixe o ruído da opinião alheia sufocar sua voz interior. E mais importante, tenha coragem de seguir seu coração e sua intuição. Eles de alguma forma já sabem o que você realmente quer se tornar. Tudo o mais é secundário.” 

Steve Jobs.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Sobre despedidas


Ela não vai mais voltar. Eu fiquei sem ela, em pé frente à velha paisagem, observando o caminho que ela percorreu. Eu já não reconheço este lugar sem ela.

Ela morreu com um tubo na garganta, e agora me falta o ar. Ela morreu com o coração implorando repouso, e agora é o meu que se recusa a bater. Ela morreu sem conseguir abrir os olhos, sem conseguir encontrar a voz. E agora eu sinto em meus braços, pernas, garganta e olhos todo o peso das amarras que ela suportou até este momento.

Eu estou imaginando se ela soube que esta era a hora, ou se ainda planejava coisas a fazer. Poucas pessoas são dotadas da grandeza de preparar-se para o fim com coragem, sabedoria e consciência. Eu vejo os chinelos no chão da sala, a presilha de cabelos na estante, as frutas recém-compradas na cozinha e estou certa de que ela desejou voltar pra casa para encontrá-las exatamente no mesmo lugar. Ela não sabia que aquela saída seria a última, que não haveria outro jantar naquela mesa, ou que nunca mais teríamos outra oportunidade de ver a TV juntas no final do dia.

Ela não vai mais voltar. E aquele aceno de cabeça lento, e o esforço para se fazer entender quando desejava que eu voltasse para casa com Deus foram os últimos. Eu não sei quando finalmente a verei de novamente, e essa na minha opinião é a grande angustia da vida. E sua imensa e irônica injustiça foi que ela se despedisse dela exatamente do jeito que não gostaria de viver, cheia de limitações, longe de casa, rodeada de luzes, aparelhos, agulhas, tubos, pessoas estranhas, uma cama que não era a sua. Eu lamento que ela tenha passado por isso. Eu lamento que não houvesse ninguém querido segurando sua mão naquele quarto branco. Eu sinto muito, meu peito está rasgado.

Eu viveria aquilo no lugar dela um milhão de vezes. Eu derramei lágrimas que me queimaram o rosto e pedi à Deus permissão para dividir a dor e a doença, aliviando seu fardo.

Eu barganhei, eu me revoltei, fiz promessas, senti remorso, raiva, tristeza, medo. Mas nada disso foi suficiente. Ela se foi, mas eu sei que não queria ter partido. Deus me ajude, porque eu não sei como me despedir.

Ela fechou os olhos esta noite, e agora eu sinto como se eu nunca mais fosse dormir.

domingo, 29 de setembro de 2019

Sobre Ouro Preto


“Os chafarizes, as pontes, os regatos, as esquinas, aqui eles falam!
Nas sombras dos janelões e portas das velhas casas, o fantasma da História passeia, procurando ouvintes...
A carinhosa chuva lava os telhados  que se apoiam, unidos como crianças de mãos dadas.
Em cada pedra-saudade destas ruas, eu vi e ouvi a dança dos anos; a dança da alegria triste e da tristeza alegre; a dança dos grandes amores!
Quem foi Gonzaga?
Quem foi Dorotea?
E onde estão... Agora?”.
A ladeira da saudade, de Ganymédes José.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Sobre a verdadeira paixão


"Viajar é a verdadeira grande paixão da minha vida.
Sempre senti, desde que tinha 16 anos e fui à Rússia pela primeira vez com o dinheiro que juntei cuidando de crianças, que viajar compensa qualquer custo ou sacrifício.
Sou leal e constante em meu amor pelas viagens, de um modo como nem sempre fui leal e constante em relação às minhas outras paixões. Tenho pelas viagens o mesmo sentimento que uma feliz nova mamãe tem por seu recém-nascido barulhento, irrequieto e cheio de cólicas - simplesmente não ligo para o que elas me fazem suportar. Porque eu as adoro.
Porque elas são minhas. Porque são exatamente a minha cara. Elas podem golfar em cima de mim se quiserem - eu simplesmente não ligo."

Do livro "Comer, Rezar, Amar", Elizabeth Gilbert.


Sobre a ambição que nunca se teve


"Posso estar errado, mas acho que Freddie nunca teve a ambição de ser o rock star mais famoso, nem o maior ou melhor em comparação com qualquer coisa ou pessoa. Ele jamais estabeleceu ambições específicas; suas ambições eram de terminar o próximo projeto, o que quer que estivesse determinado a fazer, fosse um álbum, um vídeo ou uma turnê. Talvez Freddie nunca tenha estabelecido uma grande ambição pois nunca desejaria ter a decepção de não tê-la alcançado."

Do livro "Freddie Mercury: memórias do homem que o conhecia melhor", Peter Freestone.


segunda-feira, 25 de março de 2019

Sobre 3.0 e o que vier por aí



Já se foram 30 anos e a gente nunca sabe quanto tempo ainda vem por aí. Felizmente não foram 30 anos de existência: foram 30 anos de vida, de intensidade.

Brinquei de potencializar. Brinquei de amar (e de nem sempre ser amada). Brinquei de chorar, de sorrir, de desistir e de lutar. Brinquei de aluna, turista, leitora e fã de rock n'roll. Brinquei de filha, de irmã, de amiga, de namorada e de não estar nem aí.
Eu brinquei, ponto.

E a cada brincadeira eu era menos criança. A cada brincadeira eu caía e levantava com mais força. Quanto maior o tombo e mais fundo o corte, maior era a vontade de ir pra cima, de bater de frente, de provocar.

Eu nunca aprendi a ser delicada, nunca aprendi a ser sincera sempre, nunca aprendi que sarcasmo é arma de defesa. E sem saber de nada disso construí o meu mundo, delimitei meus espaços, conquistei as minhas vitórias.

Agora, como a cada ano que se completa, é hora da reconquista, hora de começar tudo de novo... Mais uma vez, mas não a última.

Por Tatiane, a aniversariante da semana passada.