dezembro 2009

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sobre resoluções para o Ano Novo



"(...) Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na Gaveta.
Não precisa chorar de arrependimento pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto da esperança a partir de Janeiro as coisas mudem e seja claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo.
Eu sei que não é fácil mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre."

Carlos Drummond de Andrade

Um maravilhoso ano para você!

sábado, 26 de dezembro de 2009

Sobre o verão




Aaah, o verão!
A estação da perdição...

É porque no verão é que você faz tudo aquilo que vai contar para os seus netos, bisnetos e tataranetos um dia.

Nadar atrás da Ilha: é só no verão!
Caminhar até a Biquinha e se empanturrar de pastel: é só no verão!
Sem hora para acordar/ ir dormir: é só no verão!
Madrugadas no calçadão: é só no verão!
Viajar para a montanha, para a cachoeira, para o balneário: é só no verão!

É no verão que o amor floresce.
O amor à preguiça, amor ao sol ou até mesmo a um bacuri.
Ou uma dúzia de bacuris.
Por que não?!

Seja otimista rapaz, é verão.
Vai contar o que para o neto? Que ficou jogando dominó?
Não! Vai contar que pulou da pedra, comeu churrasco, deu cambalhotas...
Essas coisas que a gente só faz no verão, sabe?

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Sobre irmãs



E a gente vive junto. E a gente se dá bem. Não desejamos mal a quase ninguém. E a gente vai à luta. E conhece a dor. Consideramos justa toda forma de amor.

Psicologanda, aprendiz de psicanalista, professora de inglês, violonista, estagiária de recursos humanos, piadista, pseudo-atriz, exímia desenhista e agora, dona de um clown! Esse ano será muito bom!

domingo, 20 de dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sobre a sobremesa de hoje


Era uma base da famosa massa podre, com um montinho branco em cima, granulado verde, e uma imitação de cerejinha no topo.
Eu, habituada com as “inventanças” da empresa de alimentação, não me assustei. Estava vivendo perigosamente naquele dia. Aliás, já que sempre tive os olhos maiores do que o estômago, resolvi encarar e pedi pra Thaty mandar descer dois!
Minha única condição era que não tivesse nada de abacaxi.

Abri a boca em um “O” que deve ter sido, no mínimo, engraçado e envesguei enquanto olhava o doce perto do meu nariz. Respirei fundo e dei a primeira bocada. Sensação e percepção nunca estiveram tão desconexas.
A imitação de cereja realmente era uma cereja. E é só disso que tenho certeza.
O granulado verde parecia sujeirinha de borracha. O montinho branco tinha gosto de creme de barbear. A massa da base me lembrava carvão de churrasco.
Apesar disso, esse almoço foi um dos menos piores. Bom é quando a sobremesa lembra algo que você conhece. Ruim costuma ser nos outros dias, em que você come e não tem signo NEM significado para associar.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Sobre as aulas da Edna


MEU SONHO
Álvares de Azevedo

"EU
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? — O remorso?
Do corcel te debruças no dorso...
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?

Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? que mistério...
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?

O FANTASMA
Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!..."

Sobre super-heróis e kriptonita



Sabe a história do Super-Homem e da Kriptonita? Pois bem... É mais ou menos assim que funciona todas as vezes em que o vejo.
E eu preciso de um antídoto logo, porque com a anulação dos meus super-poderes (e efeitos colaterais como tremor, sudorese, gagueira e rubor), não consegui me despedir de uma das pessoas mais especiais pra mim nesse mundo, e, depois de hoje, não que eu vá para muito longe, mas, provavelmente, só o veja em, no mínimo, dois anos e meio.

Mas eu sou super forte, e esse tempo todo passa super rápido. Não passa?

domingo, 13 de dezembro de 2009

Sobre um ano e meio sem dormir



Guiada por minhas contas, neste mês completo exatamente um ano e seis meses sem dormir (no sentido estrito da palavra).
Um ano e seis meses me revirando na cama, com os olhos fixos nas estrelinhas brilhantes do teto do meu quarto, acordando de sonhos ruins, gritando nomes durante a madrugada, enquanto choro de soluçar. Quem, por compaixão, vem me acordar, diz que é de dar dó.
E nem o início da análise ajudou. O sono atrasado, as olheiras, e o prejuízo cognitivo estavam tão intensos que cheguei a ganhar uma caixinha de dramin de uma amiga.

Tudo começou quando, no auge dos meus 19 anos, me apaixonei pela primeira (e única) vez.
Ok, ok. Se foi a primeira vez, como dizer que foi realmente uma paixão?
Bom, se paixão é ter, desde o primeiro pensamento do dia, até o último da noite voltado a uma pessoa - incluindo seus sonhos - (e não ter vontade de matá-la por um motivo qualquer, diga-se de passagem), então presumo que seja uma paixão e que, por força de um destino que quer me deixar cheia de olheiras, gastanto bastante dinheiro com corretivo, ainda vivo este estado patológico e irrevogável.

Depois de meio ano, sofri a rejeição mais dolorosa desses quase 21 anos.
Então, o motivo para eu não dormir não era mais ansiedade. Era tristeza, saudade, constrangimento. Quando é que gostar de alguém tinha se tornado algo a esconder? Como é que nunca me ensinaram isso? E eu fui dando a cara a tapa, assim, sem mais nem menos... Ainda hoje não acredito. Juro.

Mais seis meses, e eu resolvi provar para mim mesma que não podia ter minha vida (e meu sono) regidos por alguém que mal sabe como se escreve o meu sobrenome. Numa fase de rebeldia extrema (bem quando arranquei dois dentes do juízo), há um ano sem dormir, resolvi colocar um piercing na orelha direita.
E lá se foram mais quatro meses sem dormir. Dessa vez, de raiva, porque mal podia me virar para o lado da cartilagem furada e já acordava com a dor. Quando ela estava quase cicatrizando, consegui a proeza de enroscá-la na porta da geladeira de casa. Inchou tanto, mas tanto, que tive vontade de arrancá-la junto com a jóia. Mas, cá estamos nós, vivendo harmoniosamente. E sem dor.

Quando percebi que minha orelha já não doía, resolvi ir ao salão de cabeleireiro e dar uma repaginada nessa minha cara de final de semestre. O tom avermelhado do meu castanho nunca foi algo que me agradou muito, e, às vezes, me sentia meio a caipora.
Comprei protetores de orelha, e, lá fui eu, pedindo um preto bem brilhante. Sempre achei lindo o contraste da pele branca com os cabelos escuros. Eu estava certa de que me cairiam bem. Cem por cento de aprovação.
Percebi que a tinta deu uma avariada nas madeixas. E o preto fica bem melhor quando brilha. Então deveria dobrar os cuidados caseiros com a cabeleira.

E, agora, nem ansiedade, nem tristeza, nem saudade, nem constrangimento, nem dor. O que me acorda durante a noite é o barulho da touca térmica a cada viradinha na cama.



Hoje, depois de toda a correria e preocupação com as provas de fim de semestre (apesar da minha calma sobrenatural durante esse período), tentei dormir durante a tarde. E acho que consegui. Cheguei até a sonhar. Sonhei com algo engraçado que aconteceu durante essa última semana. E acordei. Com a minha própria gargalhada. Desisto.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Sobre o fim do 5º semestre


Eu devo confessar que sempre detestei as aulas de Psicanálise durante o 4º semestre. As erratas das Obras Psicológicas de Sigmund Freud me confundiam muito, e eu já não sabia o que estava no meu inconsciente, mas que fazia parte da consciência também, o que era só recalcado, e se o que era só recalcado podia chegar à consciência. Tão confusa que, às vezes, quando os olhos do Ricardinho anoiteciam azuis, me confundiam a cor deles e a água da praia de lá de casa. E eu nadava longe. Bem longe.

Foi um semestre terrível. Eu acabei generalizando estímulos e tudo se tornou uma grande punição. Acho que por isso eu detestava não só psicanálise, mas todas as outras matérias, a começar por neuroanatomia funcional. Tinha uma vontade obstinada e imensa de chorar todas as vezes em que ouvia a palavra “oligodendrócitos/trócitos”. Mas aprendi direitinho, excluindo a parte do tronco encefálico. Desse eu tenho birra até hoje.
Tanta birra que, logo que começam a falar de qualquer estrutura habitante da caixa craniana perto de mim, já bocejo que nem doida. Ainda sim consegui fechar os Fundamentos da Neuropsicologia com dois 9,5 (dois porque fiz a integrada há três meses, até hoje ainda não sei da nota, e estou desanimada demais para assumir a responsabilidade pela contagem. Matemática nunca foi o meu forte).

Surpreendida por um bom desempenho nas últimas avaliações deste semestre (que, diga-se de passagem, é o ultimo do ano, e normalmente é somado a stress, festinhas, amigo-secreto, trabalhos, provas colossais, despedidas (e o preparo para a saudade que eu sempre sinto DELE durante quase três meses), mudanças e o desejo intenso de que tudo isso acabe logo pra poder ir pra Santos, sentar nos banquinhos à beira-mar e "distrair-me com a linha do horizonte"), tenho a sensação de missão cumprida. Até o 9,0 em Psicologia e Práticas em Educação que me faz torcer o nariz desde o primeiro semestre, e ter vontade de abandonar tudo e partir pra veterinária, me deixou orgulhosa da minha fantástica capacidade prolixa. Os arrepios e os olhos marejados durante as aulas de Ética e os livros poeirentos de Nietzsche, o interesse ininterrupto sobre finitude em Desenvolvimento Humano e o prazer em escrever sobre o Lúdico e o Desenvolvimento Infantil me deram a certeza de que todos nós realmente nascemos destinados a algo e sabemos fazê-lo naturalmente bem. Sinto-me muito feliz por ter descoberto o meu “algo”.

E que venha Jung!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sobre coisas idiotas


Às vezes, no auge dos nossos 20 anos, com preocupações com contas pra pagar, comer mais salada, se o Acre existe ou não, se a semente do tomate tem muito agrotóxico, se vai ou não aderir às Meat Free Mondays, se vai gostar ou não de Curitiba, se skype funciona tão bem quanto telefone, se pisar em xixi de gente dá leptospirose, se ele fez boa viagem, se a depiladora vai atender no feriado... A gente se pega no meio de uma conversa tão idiota, sobre um assunto tão idiota, usando argumentos tão idiotas e por meios tão idiotas, que dá vontade de pedir pra uma BIGORNA cair na nossa cabeça.
But there's no denying the ridiculousness at this point.

Maurício e eu, definitivamente, vamos para o inferno! E que venha a sexta-feira!

Sobre as sessões de acupuntura


8 horas, manhã chuvosa, o telefone toca.

- Alô.
- Oi, eu queria saber sobre as sessões de acupuntura!!
- Como?
- As sessões de acupuntura!
- Quê?
- As sessões de acupuntura, eu queria saber os preços, o horário...!
- Mas eu não sei!
- O horário?
- Não, eu não sei nada de sessões de acupuntura!
- Ué, mas aí não é 9472 7033?
- Ahh, não... é 9472 7 UM 33.
- Opa, desculpa.

Ricardo me olha com olhos de elfo doméstico. O telefone toca.

- Alô.
- Oi, eu queria saber sobre as sessões de acupuntura.
- Moço, eu não sei sobre as sessões de acupuntura. Liga no 9472 7033.
- Mas não é esse numero??
- Não, aqui é 7133... as sessões de acupuntura são no 7033.
- (silêncio) Mas como vc sabe??

Desliguei. E aprendi, não atendo mais.

Por Tatiane. Que não sabe MESMO sobre Acupuntura.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Sobre a pedra da feiticeira



Pedra da Feiticeira - São Vicente/ SP
A lenda:
Contam que uma misteriosa mulher pernoitava ali na chamada “Cama da Velha”. Essa senhora apresentava-se muito mal tratada, com longo vestido, parecendo à imagem lendária de uma bruxa.
Contavam que ela acendia fogueiras acenando para os barcos que ao longe passavam. Não molestava ninguém. Dizia que amava um marinheiro que por ali havia conhecido, quando mais nova, que a deixou prometendo voltar. Ficara grávida, mas ele nunca mais apareceu.
Por decepção e crise mental, perdeu a gestação e naquele local, na pedra onde ocorreram seus encontros amorosos, permanecia por longos períodos esperando a volta do tão amado marinheiro.
Certo dia, achando que alguém de um barco distante lhe acenava, foi adentrando ao mar, em maré cheia, junto às pedras, e ali morrera afogada, sob forte correnteza. Dizem que ainda hoje no local, em algumas noites de luar, escutam-se vozes daquela “feiticeira”.
Fonte: Boletim do IHGSV

Tem dias que eu acordo com tanta saudade de Santos que por pouco não coloco a mochila nas costas e desco correndo pra casa. Corro pra nadar perto da Ilha Porchat, sair de madrugada com o Maurício ouvindo o acústico do Lenine bem alto. Corro pra sentar nas pedras quando a maré estiver baixa, pra caminhar contra o vento logo de manhazinha. Em casa não existe pressa, e eu quase me esqueço de que lá eu não preciso correr. Eu fico segura, assim, meio que sei lá, em paz...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sobre o filé de peixe à milanesa


Dezembro de 1995, aos 6 anos, eu passava o natal na casa dos meus avós, em Itatiba.
Com todo o apetite de “lima nova”, como meu pai, sabiamente, me apelidou, acabei com quase uma travessa de peixe assado na mesa.
Só me restava deitar com o "bucho cheio" e esperar Papai Noel (vulgo tio Rê passando um calor ‘bahiano’), quando senti um espinho/nha travar na garganta.
Devo ter ficado por cinco horas comendo cinco toneladas de pães e bebendo cinco litros de leite para que o espinho/nha descesse. Engordei cinco quilos naquele natal. Nada.

Dezembro de 2009, aos 20 anos, depois de mais de uma década evitando religiosamente qualquer tipo de fruto do mar, eis que surge um filezinho branquinho, branquinho em meu prato.
Receosa, dou a primeira garfada. Suo frio. Separo dois copos de suco de caju, treino uma aeróbica com o pescoço, preparo-me para mil tossidas nada discretas.
Outra vez o espinho desce rasgando a garganta. Tlim, tlim, tlim. Esbarra em algo. Algo de quatorze anos. E os dois se vão pelo meu esôfago em direção ao estômago.

Droga. Mais um filé, por favor.

Por Tatiane. Sentindo-se abandonada.