setembro 2012

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sobre o que não acontece se não se vê


"Há coisas que só se diz por telefone: telefone elimina rosto, gesto, movimento: a voz fica absoluta. O que a voz diz, ao telefone, é tudo porque por trás dela não acontece nada como um franzir de sobrancelhas, um riso no canto da boca. E, se acontece, você não vê. O que você não vê praticamente não acontece. Ou acontece tão vagamente que é como se não." (Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "Amizade telefônica". Ed. Nova Fronteira, p. 31. O Estado de S. Paulo, 27/5/1986)

Sobre o que está além dos olhos abstratos


"Comecei a pensar nesses dois olhos abstratos e invisíveis que temos, além dos dois reais-palpáveis. E que são assim: um olho de ver-feio, outro de ver-bonito."  (Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "Então vamos continuar dançando". Ed. Nova Fronteira, p. 51. O Estado de S. Paulo, 29/10/1986)

Sobre uma tormenta interior


"Havia achado, sempre, que morrer de amor não era outra coisa além de uma licença poética. Naquela tarde, de regresso para casa outra vez, sem o gato e sem ela, comprovei que não apenas era possível, mas que eu mesmo, velho e sem ninguém, estava morrendo de amor. E também percebi que era válida a verdade contrária: não trocaria por nada neste mundo as delícias do meu desassossego. Havia perdido mais de quinze anos tratando de traduzir os cantos de Leopardi, e só naquela tarde os senti a fundo: Ai de mim, se for amor, como atormenta." (Memória de minhas putas tristes, Gabriel García Márquez)

Sobre a força dos amores que impulsionam o mundo


"Tratei de reler os clássicos que me mandaram ler na adolescência, e não agüentei. Mergulhei nas letras românticas que tanto repudiei quando minha mãe quis me forçar a ler e gostar, e através delas tomei consciência de que a força invencível que impulsionou o mundo não foram os amores felizes, e sim os contrariados. Quando meus gostos musicais entraram em crise me descobri atrasado e velho, e abri meu coração às delícias do acaso". (Memória de minhas putas tristes, Gabriel García Márquez)

Sobre a prisão do que se é


"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado de alma e sim um signo do zodíaco". (Memória de minhas putas tristes, Gabriel García Márquez)

Sobre a memória dos velhos



"É um triunfo da vida que a memória dos velhos se perca para as coisas que não são essenciais, mas raras vezes falhe para as que de verdade nos interessam. Cícero ilustrou isso de uma penada: Não há ancião que esqueça onde escondeu seu tesouro". (Memória de minhas putas tristes, Gabriel García Márquez).

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sobre uma passadinha rápida


Apenas porque tudo o que eu sei fazer nos últimos meses é suspirar e dizer o quanto meu amadinho tem sido maravilhoso pra mim, resolvi escrever baboseiras. Baboseiras sim, porque acho essa coisa de declarar aos quatro ventos seus sentimentos tão blasé. Blasé até eu me apaixonar. Sim, me apaixonar. Redondamente, se for possível.
Meu dia não foi muito bom. Quer dizer, de um modo geral, foi bom. Só que coisas ruins aconteceram. E eu não estava tão preparada para recebê-las. Além do mais, depois da vacina contra a gripe e das duas horas que passei em uma escola de ensino fundamental, natural que qualquer cristão estivesse em condições parecidas com as minhas neste momento.
Na ida pra faculdade, peguei o ônibus errado. Errado nada. Não foi consciente, mas era o ônibus que me levaria ao trabalho dele. Resolvi passar pra dar um oi. De surpresa. Bem depressa pra chegar à aula a tempo. 
Meu coração ia tranquilo caminhando comigo até o prédio. Entrei no salão e o encontrei sentado em um banco, conversando e chacoalhando as chaves do carro. A camisa azul marinho, o pullover preto (ok, nem todo mundo é perfeito) e o cabelo castanho escuro contrastavam com o rosto branquinho. Ele conversava calmo e risonho. Quando me viu, me recepcionou com a habitual forma gentil e carinhosa, e, animado, ascendeu todas as luzes da casa pra me mostrar como estava ficando seu trabalho (aquele ao qual se dedicou por meses, que ficou magnifico só por ter sido feito por ele).
Eu quero sentir isso pra sempre.