Sobre amores platônicos de escritório

domingo, 22 de novembro de 2020

Sobre amores platônicos de escritório



Havia algo nele que já falava comigo desde que nos conhecemos - ou muito pouco depois disso.

Recordo-me de como me senti identificada com ele quando soube que tocava em uma banda de rock - e do meu esforço durante a festa de fim de ano do escritório para fazê-lo perceber que tínhamos isso em comum quando rolou um som dos anos 80.
A mesma coisa aconteceu quando vi em sua mesa um CD do Whitesnake e mencionei o show no qual tinha estado recentemente, apenas para descobrir que nós dois havíamos sido público daquela apresentação. Nosso primeiro vínculo.
Foram algumas situações como estas para colecionar desde então. Um comentário sobre o último filme de Star Wars ou a respeito do tema de uma camiseta me fizeram chegar onde estou hoje.
Passei uma viagem inteira ao Jalapão ouvindo repetidamente o rock nacional de um pendrive achado na Hilux alugada (a única música disponível), sem entender o motivo de imaginar se ele também vivia experiências similares, sentindo-se livre e vivo durante o percurso.

Mas foi somente na semana passada, depois de mais de 6 anos vendo-o dia após dia, que pude perceber o quanto ele me afeta. Foi um comentário inocente, repleto de testemunhas e pensado para ser uma piada em relação à minha urgência em resolver um problema com a ajuda dele depois da semana em que ele ficou fora do escritório. Eu falei rindo. E assim lutei internamente para continuar enquanto seu rosto se tornou vermelho e  incapaz de direcionar os olhos para mim.

Acho que foi a reação dele o que me fez enxergá-lo como uma possibilidade. E apesar da imensa consciência do platonismo desse sentimento, passei a prestar atenção em todos os detalhes da nossa convivência: uma visita à minha sala ao invés do uso do ramal, pequenos comentários pessoais que passaram a revelar discretos aspectos de humanidade, a cumplicidade nos sorrisos e olhares que começamos a trocar em situações que antes eram apenas problemáticas e pelas quais agora anseio, os toques ocasionais nos ombros e principalmente a melancolia quando vejo que seu carro não está mais no estacionamento.

Eu que passei o último ano muito próxima do esgotamento em razão de todas as situações limítrofes às quais fui exposta, agora até consigo sentir satisfação por estar vivendo tudo isso com ele.

E absolutamente nada de bom pode vir desse novo panorama.
Preciso encontrar com urgência um novo emprego. Ou uma forma de fazer as coisas voltarem a ser como eram antes. 

Enquanto isso, retomo a adesão ao home office.

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