Sobre alguem que nunca vai embora

sábado, 10 de abril de 2010

Sobre alguem que nunca vai embora


Ele costumava dizer que o ódio que sentíamos um pelo outro era a condição necessária para que nos amássemos tanto e não conseguíssemos ficar longe por muito tempo. Apesar de contraditório - e estranho, diga-se de passagem, acho que ele não estava tão errado.

Já passamos por tanta coisa juntos neste tempo - e agora que parei para fazer as contas, chego à conclusão de que são quase oito - que fica até difícil lembrar. É como se tivesse sido ontem. A escola, a blusa verde que combinava com os olhos, o cabelo loiro e lisérrimo que me causava inveja e as bolachas de maisena nos intervalos de aula. Dividimos olhares, piadas, risadas (e a gargalhada mais gostosa de ouvir do mundo). Dividimos mentiras, verdades inconstestáveis, traições e erros cometidos no desejo de acertar. Fomos cúmplices por tantas vezes, obrigados a fingir que não nos suportávamos só para poder continuar nos vendo. Já tive vontade de torcer o pescoço dele para nunca mais ter que encontrá-lo. Já me senti a pior pessoa do mundo por magoá-lo. Já desisti de coisas das quais tinha certeza para evitar que outras o machucassem. Ele já invadiu meus comunicadores instantâneos, e-mails, contas nos sites de relacionamento e alterou todas as minhas configurações (e mesmo assim eu não mudei senha alguma).

Ele já me fez chorar quando sumiu sem me dar explicações maiores, e me fez ter taquicardia quando foi me buscar na escola sem avisar. Já me aninhou no peito, pousou minha cabeça no ombro e me fez cafuné. Beijou meu cabelo, minha bochecha, minha boca, segurou minha mão e me prometeu que tudo ia ficar bem. Ficou parado em silêncio do meu lado quando eu sentia dor, mesmo quando ficar alí comigo lhe causava dor. Me deu sorvete, bala, chiclete. Me deu toda a atenção e cuidado do mundo.

Ficamos mundialmente famosos em nossa estada na Colômbia. Passei dias preocupada quando soube que ele estava fumando, dias decepcionada quando soube que ele tinha cortado o cabelo e outros com raiva pelo piercing na sobrancelha. Tomamos frapê e açaí com mostarda. Eu o aplaudi em pé, com o sorriso na orelha e o coração palpitando. Chorei quando soube que ele estava indo embora, voar pelo mundo, mesmo sem saber direito por qual motivo. Fui feliz por ele estar feliz.
Já nos desligamos totalmente. Já passei dias sem me lembrar dele, e outros sofrendo com a saudade e com a impossibilidade de lhe dar um abraço. Já me acostumei com a presença, com as partezinhas dele que me deu e que me constituem.

Estranho estar desse jeito depois de tantos anos. Quando, depois de tanto tempo, faltam menos de doze horas para que nos encontremos novamente. Quando só me restam taquicardia e a vontade de abraçá-lo e não deixá-lo ir pra longe nunca mais (eu que, por tantas vezes agi como se quisesse o oposto).
Ah...


Nada do que é você em mim se desfaz (Djavan)

2 opiniões a respeito disso :

Anônimo disse...

Olá, Tati! Este é o meu primeiro comentário no seu blog, mas já tenho passado por aqui com uma certa frequência... Amei o seu texto, muito sensível, muito verdadeiro, digno de um amor inesquecível. A frase de uma das canções do Djavan fechou o post com a chamada "chave de ouro"! Parabéns pelo blog, parabéns pela alma que você coloca naquilo que escreve. Grande abraço! Cuide-se bem...

Carolina de Castro disse...

Re encontros!
Sensacional!!!
Beijos