Sobre o Lado B "daquela" viagem à Ilha Grande
Eu tenho encontrado nas minhas reminiscências (ui, que rebuscada) uma forma terapêutica de lidar com a tensão dessa pandemia. E com certo sucesso.
O fato é que, enquanto ríamos por conferência e eu me impressionava com a quantidade de percepções e besteiras que sou capaz de compartilhar em uma conversa de whatsapp, me passou pela cabeça que gente postando foto lacradora de viagem tem de monte por aí (até nós mesmas temos aquela meia dúzia que foi pro instagram depois de uns filtros). Mas o que faz a experiência ser memorável são justamente vídeos como aquele, impublicáveis (mas dos quais sempre teremos um comentário a mais a fazer).
- Primeiramente, não se engane. Não foi nosso espírito aventureiro que nos motivou a fazer essa viagem. Foi a inclusão de pensão completa. Se tinha passeio no pacote? Nem me me lembro. Mas ofereceram café da manhã, almoço e jantar todos os dias.
- O dia foi amanhecendo e o sol NÃO FOI surgindo. E meu humor começou a ficar péssimo. Querendo salvar o feriado, e imaginando que nada mais poderia dar errado, Gi e eu resolvemos nos integrar com a galera. Foi quando tomamos conhecimento da tensão que havia ocorrido naquele mesmo local, com aquelas mesmas pessoas, um ano atrás (em tempo, a fofoca: aquela viagem estava sendo organizada por um casal. A parte masculina do casal usou algum tipo de tóxico forte que fez com que ele ficasse com uma menina aleatória na frente da esposa, com direito a andar de mãos dadas pela praia e tudo o mais. A esposa, vendo aquilo, jogou todas as coisas da menina aleatória na água. A menina aleatória virou a Paola Bracho e resolveu que sua missão de vida era atormentar o casal. E lá estava ela, naquela viagem, fazendo exatamente isso, e por algum motivo estranho decidiu que queria ser nossa amiga). Resumindo, além de correr do deslizamento, a gente também correu para o mais longe possível da Menina Aleatória Bracho e seus amigos, com medo de ter nossos pertences jogados na água também.
- Então, em nossa condição isolada (e em provisória segurança), aproveitávamos a brisa do mar durante o trajeto entre uma praia e outra quando mergulhei de cabeça no clima e comecei a me ressentir pra Gi sobre o fato de ser solteira à beira dos 30 anos. Enquanto minha amiga ouvia pacientemente e tentava encontrar uma solução, um rapaz simpático, garboso e típico Rei do Funk se aproximou e começou a puxar papo. Do nada, e com total liberdade (que eu obviamente não dei) me fez cafuné de um jeito sedutor (amadoh?). Minha reação foi muito natural (por motivos de: 1 - eu estava sendo eu mesma; 2 - eu não percebi as intenções do cara). Pedi que ele parasse porque estava me deixando com mais sono do que eu já sentia (acho que também mencionei ter recordado de que, na infância, minha avó me fazia cafuné na hora de dormir). O confiante e corajoso rapaz ainda fez um elogio (que desconfio não ter sido sincero) ao meu sorriso, que na época era amarrado por um aparelho fixo. De imediato comecei a discorrer sobre os problemas de alinhamento dos meus dentes e todo o trabalho que aqueles ferros demandavam (em especial os relacionados à prevenção ao tártaro e outras coisas nojentas que podem ser encontradas dentro de uma boca). Aquele foi o fim da conversa. Também foi a última conversa que tivemos.
- Na segunda noite na Ilha rolou a festa de aniversário da agência. Era uma confusão de funk, músicas da Xuxa, cabeças de cavalo e pessoas muito maquiadas (enquanto eu usava meu reconfortante moletom velho e desbotado porque o medo de acabar embaixo de um possível deslizamento me dava calafrio - e digo corajosamente que também afetava meu intestino). Mas uma caipirinha de maracujá superfaturada, milhares de docinhos de aniversário e o remix de 30 segundos de B.Y.O.B. (que eu não faço ideia do que estava fazendo no meio daquela playlist) me ajudaram na integração. No final da festa, até tentei cantar algumas letras (mas não sem protestos) e dancei.- Ok, não foi exatamente uma dança.
- No terceiro e último dia, o que finalmente amanheceu com o revoltante sol mais lindo de todo o feriado, quando já tínhamos as forças esgotadas e uma pequena centelha de otimismo começando a aumentar em razão da perspectiva de voltarmos para casa, saímos para a última aventura da Ilha Grande e por motivos que desconhecemos, nos pareceu uma boa ideia puxar um coro de "Meu Bem Querer" do Djavan com a galera da escuna, o que nos rendeu registros fotográficos estranhos (como este).
- Acordei de um cochilo no ônibus e notei que já percorríamos a Marginal Tietê. De imediato sacudi a Gi e nos preparamos para desembarcar assim que o ônibus estacionasse no terminal. Pegamos nossa bagagem e, literalmente, corremos pela rua arrastando as rodinhas enquanto deixávamos as despedidas para trás com medo de que nos dissessem que na verdade a viagem ainda não tinha acabado.






