Sobre coisas que já não cabem mais

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sobre coisas que já não cabem mais



Jean e eu nos conhecemos há quatro anos atrás (talvez um pouco mais), por meios virtuais. As semelhanças em nossas vidas seriam o suficiente para nos fazer ficar próximos durante toda uma vida. Nascemos no mesmo ano, mês, dia, no mesmo hospital. E nos reencontramos exatamente 18 anos depois, quando ambos comemoravam a maioridade. Gostávamos das mesmas bandas, tínhamos a mesma fixação pelo Johnny Depp e endeusávamos nossos cabelos longos e lisos. Ambos eram sarcásticos, irônicos, meio bobos, adorávamos desenhos e falar inglês. Não sabíamos ao certo o que desejávamos para nosso futuro e mal nos lembrávamos do último jantar. Passávamos horas rindo no meio de um besteirol infinito.
Well... Esta história não é dramática ou engraçada. É apenas uma história comum. Na verdade, bastante comum e parecida com a minha relação com a maioria dos meus amigos (amigos mesmo). E resolvi escrever sobre ela porque, depois de uma pane no sistema online que nos mantinha sempre em diálogo, perda da minha agenda e a mudança dele e da família para o Paraná, perdemos totalmente o contato.
Mas hoje, andando por São Paulo, trombei em um garoto loiro, com os olhos azuis mais lindos deste mundo e o cabelo lisinho penteado para a esquerda. Claro que demorei um tempinho para fechar a boca, racionalizar e pedir desculpas. Mais um tempinho para reconhecê-lo e mais um pouco para perceber que ele já havia me notado antes mesmo de trombar comigo e que, na realidade, a culpa da colisão era dele.
Conversamos por mais ou menos trinta minutos e pude perceber o quanto quatro anos podem mudar uma pessoa. Ou duas. Antes metaleirozinhos farofa, agora quase engenheiro e psicóloga. Antes cabeludos quase headbangers, agora escovados e arrumados. Camisetas de banda deram lugar a camisas sociais e a conversa alta e gargalhadas foram substituídas por diálogos cheio de palavras difíceis e de idioma próprio das formações escolhidas.
Conversamos, conversamos, conversamos. E a conversa já não era mais a mesma. A sensação de ter uma parte do passado presente era confortante, mas já não parecia a mesma vida e nem as mesmas lembranças. Passamos a tarde juntos, tomamos café na Paulista, vimos uma peça de teatro e prometemos nos ver mais vezes até que ele volte para o sul. Mas... A sensação é de que antigas coisas já não cabem nos mesmos lugares. E que o lugar delas é realmente lá, lá atrás.
Mas, pela primeira vez, ao invés de eliminar o diferente e desconfortável, lamentando um objeto/ período/ circunstância perdido, por que não amar o novo?
(texto sem pé nem cabeça, que veio a calhar em virtude do assunto da última sessão de análise)

1 opiniões a respeito disso :

anacarla disse...

Amei esse post, principalmente a última parte. É verdade, a gente muda, o mundo muda, e aquilo que fez parte do nosso passado não parece se encaixar no nosso presente...