Sobre o meu Natal favorito
Nessa semana ouvi minha prima dizer "que época mais chata é essa das festas de final de ano".
A princípio, a declaração me causou estranhamento, e foi potencializada pelo fato de ter sido proferida por uma das pessoas mais sensatas e gentis que conheço. Parei por um segundo em silêncio e ela, como que percebendo meu choque, se apressou a explicar: "brigamos o ano todo, e agora somos obrigados a ficar juntos".
Compreendendo o ponto de vista de minha prima, que fez todo sentido quando contextualizado, comecei a pensar nos meus últimos Natais.
Tantas noites enfadonhas, sonolentas, tediosas, sem sentido ou significado. Desejando voltar para casa o mais rápido possível para aproveitar meus livros e filmes de conforto, tradições criadas ao longo da minha vida e compartilhadas apenas comigo mesma.
Meus melhores Natais foram os da infância. Com meus avós, os pisca-piscas, mesas fartas e risadas. Família reunida com um propósito. Depois que fiquei mais velha e Papai Noel deixou de visitar nossa casa, que já não tinha crianças, as coisas foram perdendo um pouco o brilho. Meus avós partiram, a família se dissipou e meus Natais se resumiram ao nosso pequeno núcleo familiar, cheio de saudade dos que já não estavam mais conosco - mesmo aqueles vivos. E essa época se tornou melancólica e triste, pois a toda ceia ficava imaginando se aquelas poucas pessoas ainda estariam conosco no próximo ano - e assim comecei a reforçar um luto antecipatório que já dura 12 anos, apesar de toda a terapia.
Pensando nos meus últimos Natais, um me salta à memória por ter sido o mais feliz - e solitário.
Meu pequeno núcleo familiar enfrentava uma crise, e estávamos sozinhos em casa. Um jantar simples foi preparado, e aguardávamos a meia noite para ceiar. Como éramos apenas nós, não havia necessidade de grandes produções pessoais e estéticas para impressionar. Então coloquei meu pijama, me deitei e comecei a assistir "O Estranho Mundo de Jack".
Minha cachorrinha, Pity, uma vira-latinha de 17 anos que estava comigo desde os meus 08 estava deitada na caminha, no chão do meu quarto. Há dois meses atrás tinha recebido o diagnóstico de um problema renal e nosso veterinário nos preparou para o que viria pela frente: ela não teria mais muito tempo.
Então lá estava eu, sozinha, ouvindo o dom da TV da sala distante, observando aquela pequena vida que tinha sido minha companhia amada boa parte da infância e adolescência, e pela qual eu me sentia profundamente responsável. Ouvia as canções do filme de Tim Burton ao fundo, enquanto a observava respirando sob as luzes de led que enfeitavam o quarto, e eu sabia que sentiria uma falta pungente de ver o peito dela subindo e descendo calmamente. E a única coisa que passava pela minha cabeça, em referência a Last Kiss, da famigerada Pearl Jam, é que eu estava encontrando o amor que eu sabia que perderia. Então eu sorvi cada segundo daquela noite, e a paz, a gratidão por estar com ela, por prover conforto e cuidados foi tomando conta de mim.
Neste ano, meu primeiro frequentando com afinco a doutrina kardecista, estando em comunhão com O Mestre Jesus e tocada pelo trabalho magnífico da série The Chosen, que me fez apaixonar profundamente pelo Amor de Deus, decidi que faria sentido repetir esse recolhimento. E assim o fiz - no meu quarto, vendo meus dois cachorros deitados perto da minha cama dormindo tranquilamente, assisti o Quebra-Nozes e pedi para que Deus concedesse essa mesma paz a todos que precisem dela. E sabe de uma coisa? Percebi que nunca perdi amor: ele estava o tempo todo dentro de mim.
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