Sobre um ano e meio sem dormir

domingo, 13 de dezembro de 2009

Sobre um ano e meio sem dormir



Guiada por minhas contas, neste mês completo exatamente um ano e seis meses sem dormir (no sentido estrito da palavra).
Um ano e seis meses me revirando na cama, com os olhos fixos nas estrelinhas brilhantes do teto do meu quarto, acordando de sonhos ruins, gritando nomes durante a madrugada, enquanto choro de soluçar. Quem, por compaixão, vem me acordar, diz que é de dar dó.
E nem o início da análise ajudou. O sono atrasado, as olheiras, e o prejuízo cognitivo estavam tão intensos que cheguei a ganhar uma caixinha de dramin de uma amiga.

Tudo começou quando, no auge dos meus 19 anos, me apaixonei pela primeira (e única) vez.
Ok, ok. Se foi a primeira vez, como dizer que foi realmente uma paixão?
Bom, se paixão é ter, desde o primeiro pensamento do dia, até o último da noite voltado a uma pessoa - incluindo seus sonhos - (e não ter vontade de matá-la por um motivo qualquer, diga-se de passagem), então presumo que seja uma paixão e que, por força de um destino que quer me deixar cheia de olheiras, gastanto bastante dinheiro com corretivo, ainda vivo este estado patológico e irrevogável.

Depois de meio ano, sofri a rejeição mais dolorosa desses quase 21 anos.
Então, o motivo para eu não dormir não era mais ansiedade. Era tristeza, saudade, constrangimento. Quando é que gostar de alguém tinha se tornado algo a esconder? Como é que nunca me ensinaram isso? E eu fui dando a cara a tapa, assim, sem mais nem menos... Ainda hoje não acredito. Juro.

Mais seis meses, e eu resolvi provar para mim mesma que não podia ter minha vida (e meu sono) regidos por alguém que mal sabe como se escreve o meu sobrenome. Numa fase de rebeldia extrema (bem quando arranquei dois dentes do juízo), há um ano sem dormir, resolvi colocar um piercing na orelha direita.
E lá se foram mais quatro meses sem dormir. Dessa vez, de raiva, porque mal podia me virar para o lado da cartilagem furada e já acordava com a dor. Quando ela estava quase cicatrizando, consegui a proeza de enroscá-la na porta da geladeira de casa. Inchou tanto, mas tanto, que tive vontade de arrancá-la junto com a jóia. Mas, cá estamos nós, vivendo harmoniosamente. E sem dor.

Quando percebi que minha orelha já não doía, resolvi ir ao salão de cabeleireiro e dar uma repaginada nessa minha cara de final de semestre. O tom avermelhado do meu castanho nunca foi algo que me agradou muito, e, às vezes, me sentia meio a caipora.
Comprei protetores de orelha, e, lá fui eu, pedindo um preto bem brilhante. Sempre achei lindo o contraste da pele branca com os cabelos escuros. Eu estava certa de que me cairiam bem. Cem por cento de aprovação.
Percebi que a tinta deu uma avariada nas madeixas. E o preto fica bem melhor quando brilha. Então deveria dobrar os cuidados caseiros com a cabeleira.

E, agora, nem ansiedade, nem tristeza, nem saudade, nem constrangimento, nem dor. O que me acorda durante a noite é o barulho da touca térmica a cada viradinha na cama.



Hoje, depois de toda a correria e preocupação com as provas de fim de semestre (apesar da minha calma sobrenatural durante esse período), tentei dormir durante a tarde. E acho que consegui. Cheguei até a sonhar. Sonhei com algo engraçado que aconteceu durante essa última semana. E acordei. Com a minha própria gargalhada. Desisto.

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