Sobre como fazer com que a convivência se torne insuportável
Dia desses tomei um dramin pro estômago que estava me chateando. Esperei o sábado justamente para isso e avisei que cairia num sono profundo, aproveitando para "tirar o atraso" da semana inteirinha. Me deitei às 16h.
Surdo. Por qual motivo motivo diferente falaria tão alto assim durante todo o dia? Falava sozinho, falava com o cachorro. Berrava ao telefone tentando consolar os familiares de um amigo internado. E eu lutando contra toda a poluição sonora, tentando me entregar aos efeitos do medicamento. Pedi para que ele se atentasse ao volume da voz, mas, ao invés de sensibilizar-se com as minhas necessidades, criticou-me por ser "tão crítica" com ele.
E o som foi me irritando, e o mal-estar aumentando. O ápice foi quando, às 19h, finalmente consegui pegar no sono. Naquele mesmo instante ele me acordou aos berros perguntando se eu jantaria.
ÓBVIO QUE NÃO! Primeiro: meu estômago estava horrível. Segundo: avisei pelo menos cinco vezes que dormiria o quanto pudesse naquele dia. Então POR QUÊ?
São essas situações em que, se houvesse o mínimo de raciocínio possível, poderiam tornar nossa convivência um pouco menos desagradável.
Já são três meses em que chego até sua casa e vejo um maldito fio no chão, que percorre toda a distância da sala até o quarto, passando pelo banheiro e cozinha, atravessado na escada, obrigando-nos a abaixar quando descemos para o térreo. Três meses de ausência de organização, estética e vergonha na cara.
Já perdi as contas de quantas vezes tropecei nele. Já cai na beira da escada e torci o pulso tentando me segurar na grade. Eu. Justo eu que sou milimetricamente organizada. Eu que penso sempre em separar tudo por utilidade, frequência de necessidade e facilidade no acesso. E quando eu sugiro uma solução para aquela coisa horrorosa no meio da casa? Eu sou "tão crítica" com ele.
A jarra de vidro na geladeira me irrita. Profundamente. Perdi a conta de quantos sachês de suco artificial em pó ele consome por dia. Bebendo na biqueira o tempo todo - é assim, pra evitar "gastar com água lavando os copos". Acho nojento. Mas não falo mais nada. Simplesmente não bebo. E nem ofereço às visitas. Ele também costuma economizar quando a bebida acaba e ele deve preparar mais. Despeja o pó e água lá dentro desprezando os restos do anterior.
Uma vez cheguei da rua sedenta. Queria água (mas a garrafa destinada à ela na geladeira estava vazia e as forminhas de gelo haviam sumido do congelador). Ví a jarra cheia. Suco de tangerina (o meu favorito). Ok. Vou pegá-la. Só hoje. Puxei-a para fora. Quando levantei a jarra para despejar o líquido no copo e ela se aproximou do meu rosto, senti o odor mais desagradável possível esperado de uma jarra de suco.
Não pude acreditar que ele ainda estava tomando aquilo. Na mesma jarra. Com aquele mesmo cheiro terrível. Até o aroma, normalmente exagerado dessas coisinhas industrializadas artificiais ficava ofuscado pelo fedor que vinha dela.
Então, para não ser "tão crítica" mais uma vez, peguei minhas coisas e fui embora. Acho que ele não vai mais reclamar da minha chatice agora.
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