Sobre a ligação
Foi até a livraria e folheou um livro sobre a Romênia. Tinha fascínio por esse país. Em especial, pela Transilvânia. Se pudesse, moraria lá. Terra do mítico Conde Drácula, de caninos afiados, estacas pontiagudas, imponentes castelos, velhinhas de lenços coloridos, carroças pitorescas, cemitérios esculpidos, vampiros lendários e pizzas de cérebro de porco. Viajar pela Transilvânia é mergulhar no passado. A paisagem rural, às vezes plana, outras vezes caprichosamente montanhosa, cercada pelo arco geográfico formado pelos Montes Cárpatos...
Lembrou-se (como se fosse capaz de esquecer), que a vizinha do andar de baixo havia comentado, durante um encontro no elevador, que ele viajaria para o leste europeu durante as férias de julho, e que talvez passasse alguns dias na Romênia. Isso não a animou muito, já que sabia que ele iria a trabalho e que, provavelmente, chegaria ao aeroporto, rumaria para o hotel, dormiria, trabalharia, voltaria para o hotel, e depois direto para o aeroporto. Mas mesmo assim minhocou, minhocou. Minhocou muito durante todo o final de semana.
Chegando ao trabalho, previu que não conseguiria esconder a novidade de uma das únicas pessoas que conhecera nos últimos meses e que parecia ter o estranho dom de lhe ler os pensamentos. Contou tudo. Falou sobre sua empolgação sem sentido com a viagem DELE, e da saudade que sentiria durante o mês. E minhocou mais um pouco. Dessa vez queria saber quando ele (que nem sonhava com tanta empolgação – e talvez nem com a existência dela) sairia do Brasil. TINHA que lhe desejar uma boa viagem, mesmo que fosse só enviando pensamentos positivos.
No horário do almoço, ansiosa, teve a idéia da ligação.
Pediu a amiga que discasse e o chamasse. Caso ele atendesse, saberia que ainda estava no país. E esvaziaria-se de tanta expectativa (como se fosse possível que, por intervenção divina, ele a levasse nas malas para a Europa Oriental). Simples assim.
Anotou o número num papelzinho e o entregou. Sentou-se na mesa, frente a ela. As bochechas vermelhas, infladas de ar, apoiadas nas mãos. O coração disparado e os olhos atentos. A amiga riu enquanto discava calmamente o número. Dois toques.
- Alô. Por favor o Rodrigo?
- Só um minuto.
Imediatamente, viu a palidez tomando conta do rosto da amiga (dona de uma pele anteriormente leitosa de tão branca). Ela abriu os olhos verdes o máximo que pode. Os lábios formaram um “O” e o silêncio pairou no ar. - O QUE FOI?!Ansiosa, observou o silêncio e a expressão ainda estática e branca à sua frente. Mais três segundos e a amiga desviou os olhos do seu rosto e fitou o telefone, parecendo ainda mais assustada. Respirou. Tentou emitir algum som, mas não conseguiu. Tensa, fez força para encher os pulmões de ar mais uma vez, dessa vez com sucesso.
“E-l-e e-s-t-á l-á, e-l-e e-s-t-á l-á, e-l-e e-s-t-á l-á”
E arremessou o telefone, com todo o vigor que a descarga de adrenalina permitiu, de volta ao gancho.
Sem compaixão nenhuma pela companheira, que, apesar do absurdo, topou realizar a ligação e recuperava-se do quase-infarto-agudo-do-miocárdio-do-ventrículo-esquerdo, ela reclama:
- Como se ele fosse te ver pelo telefone, TONTA!
Em homenagem à minha amiga, Tatiane Cristina.
É muito bom saber que temos com quem contar nessa vida, loira! Já estava na hora de eu registrar aqui o quanto a admiro e o quanto fico feliz por ter sua companhia diariamente (quase um ano! Eba!). A irmã mais velha que eu não tive. Rara, em poucas palavras.
1 opiniões a respeito disso :
AMEI!!! rsrs...
Confesso que estou aqui rindo sozinha...
Quero que vc saiba que a única pessoa que consegue tornar aquele RH mais "humano" é você, sem sua companhia aquilo seria insuportável...
E pode contar comigo pra qualquer tipo de "maluquice", adoroooo uma bagunça e acima de tudo, ADORO VOCÊ!!!!
bjoooo
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